quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O espírito de camaradagem da CC 115



















Foto do Comandante do 1º. Pelotão da CC 115 - Alferes Miliciano Gualter Leite Freitas



O espírito de camaradagem que existiu entre oficiais, sargentos e praças da CC 115, a meu ver, foi sempre uma realidade, por ter sido bem aceite o modelo de "disciplina consentida" e não "disciplina imposta", onde os princípios fundamentais da disciplina nunca foram postos em causa.

O lema da camaradagem é unidade e unidade é sintonia de vida. A dedicação entre uns e outros fazem nascer, naturalmente, sentimentos de solidariedade e de simpatia úteis à tarefa comum. As insígnias do posto e uniforme, têm por efeito significar publicamente que todos são dignos da função que desempenham, que o seu valor é sólido e deve ser incontestado.

A permuta de fotografias, no último semestre da campanha da "115", confirma o elevado espírito de camaradagem. Por tal facto, as fotos dos velhos companheiros guardámo-las em local seguro e livre dos bolores do esquecimento e acreditamos que elas nos transmitem histórias incontáveis, únicas e simplesmente especiais, tanto assim que, durante os habituais encontros de confraternização, quase sem darmos por isso, lá estamos a mostrar mais uma ou outra fotografia, a preto e branco, ou o velho álbum, que ajuda a recriar o percurso das nossas vidas.

Sabemos de antemão que as "histórias" contadas durante os eventos, correm naturalmente o risco de se esvaírem no tempo e no esquecimento. Todavia fazem parte de um passado!


terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O Capelão do Bat. Caç. 114


















Foto do Alferes Capelão, Padre Carlos Mesquita

O Capelão permanecia junto do Comando do Batalhão (CCS), mas deslocava-se assiduamente em visita pastoral às Companhias Operacionais e, de vez em quando, por sua iniciativa, decidia ir connosco em missão de patrulhamento.
Homem de fé, como não podia deixar de ser. Já não me recordo se, nas suas deslocações , iria ou não armado. Contudo, duvido que soubesse utilizar a arma se se visse confrontado com o IN. A transportá-la, seria mais uma acção psicológica pessoal. Neste caso, o IN considerá-lo-ia como um simples soldado.
Este nosso Alferes Capelão, hoje Coronel, comparece a alguns dos nossos almoços de confraternização e, de um modo geral, preside ao acto litúrgico (Missa) que tem lugar antes da hora do almoço, como aconteceu por exemplo em Fátima no dia 27Mai2001, local onde o Batalhão se reuniu e confraternizou.

Dezembro de 1961 - Angola

























Comandante do 2º. Pelotão da CC 115 - Alferes Miliciano João Reis Lima Barreto
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As festividades natalícias de 1961 não existiram para a CC 115.

No mês de Dezembro de 1961, o 2º. Pelotão da "115" encontrava-se acampado na margem direita do rio Lifune, em Anapasso, precisamente no local onde a Companhia pernoitara na noite de 14/15 de Julho desse mesmo ano (vide posts deste Blog "Episódios Avulsos" e "Acampamento do rio Lifune").

Para mim, ter chegado vivo ao mês de Dezembro e sem vestígios de bala no corpo, parecia-me quase um milagre - milagre que na perspectiva religiosa, o importante não é interrogar-mo-nos quanto ao que aconteceu, mas perscrutar o sentido do mesmo - .

Relembro que, de um pelotão composto por 38 militares, no dia 15 de Julho, perderam a vida em combate 6 dos nossos camaradas e que 14 ficaram gravemente feridos. Fui um dos restantes 18 militares do pelotão a sair ileso desse violento confronto.

Nesse longínquo mês de Dezembro, em dia que já não sei precisar, o Alferes Miliciano Lima Barreto, Comandante do 2º. Pelotão, devidamente autorizado pelo Comandante de Companhia, convidou-me a mim e a mais 3 ou 4 militares a acompanhá-lo a Luanda. Ao chegarmos àquela cidade, mais parecíamos uns extraterrestres vindos de um qualquer outro planeta. Bastará referir que estivemos alguns meses sem ver sequer uma única mulher - nem preta nem branca! Curiosamente as primeiras senhoras que vimos, passado todo aquele período de tempo, foi as esposas de 4 dos Oficiais da Companhia que, entretanto, haviam chegado de Lisboa e que foram ter com os maridos ao Cacuaco.

Em Luanda, um casal familiar do Alferes Barreto obsequiou-nos com um jantar na sua residência. Durante o jantar falámos, como não podia deixar de ser, de alguns episódios ocorridos e referidos no blog. Deu para relaxar um pouco e ao mesmo tempo, para aliviar o stress e os pesadelos que continuamente nos atormentavam geridos pelo nosso subconsciente, o tal fantasma que ainda hoje persegue como uma sombra muitos dos combatentes das ex-Colónias Portuguesas. Terminado o jantar, que reconhecidamente agradecemos à família do Alferes Barreto, regressámos ao "mato". Registamos, como também não podia deixar de ser, o gesto e a camaradagem do Senhor Alferes Barreto, que nunca abandonou os seus homens, nem em combate nem em Luanda, quando o poderia eventualmente ter feito. Coisas aparentemente simples e normais mas que contribuíram grandemente para unir, para sempre, os ex-militares da CC 115, que criaram dentro de si, o espírito de camaradagem táo necessária a qualquer unidade militar, instituição que se preze ou grupo de trabalho.

Aló!... Aló!... ex-Alferes Miliciano João Reis Lima Barreto - Rua Domingos José Morais - Viana do Castelo. Um abraço fraterno do ex-1º. Cabo Radiotelegrafista Horta.