segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Acampamento do rio Lifune

Às 23.15 de 17-12-1961, hora de Lisboa (e também de Angola; o Fuso horário é o mesmo), a União Indiana iniciou um poderoso ataque militar contra Goa, Damão e Diu e invadiu as possessões portuguesas na costa ocidental do subcontinente, provocando um rude golpe no orgulho de Salazar. Sendo absolutamente indefensáveis, dada a desproporção das forças envolvidas, o velho ditador ainda pretenderá uma morte honrosa, sem rendição, por parte dos escassos portugueses que defendiam aquelas possessões.
Mas a História ia rolando! A rendição dos portugueses deu-se em 19Dez.
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Nessa data, o 2º. Pelotão da CC 115, ao qual eu pertencia, encontrava-se no acanhado acampamento do Rio Lifune.
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Paludismo
Durante o período de tempo acima referido, fui atacado pelo paludismo. Este ataque, típico das regiões tropicais, começou com calafrios; a temperatura do corpo subiu rapidamente e penso que chegou aos 41ºC, não obstante eu ter engolido, desde que colocara os pés em Angola, os comprimidos de sulfato de quinino que o médico da Companhia periodicamente receitava para prevenção de algumas doenças tropicais.
Suportei este ataque de paludismo deitado numa tarimba de madeira que eu próprio engendrei, desguarnecida de lençóis, mas coberto com uma manta de papa no momento dos calafrios.
Como é sabido, o agente do paludismo é transmitido ao homem pela picada do mosquito (fêmea) denominado anófele, ou por parasitas que se transmitem ao ser humano através deste insecto que deixa os ovos na superfície das águas.
A sede obrigava a que bebêssemos uma qualquer água sem o tratamento adequado, não obstante a forte oposição do médico da Companhia que aconselhava alguma prudência mas que acabava por se render à evidência. Recordo que, por várias vezes, em operações por dias sucessivos, enchíamos os cantis em charcos de água onde os animais da floresta bebiam e chafurdavam e introduzíamos-lhes um comprimido. Passado muito pouco tempo e dado que a sede a isso obrigava, colocávamos o lenço de bolso no bocal do cantil a servir de filtro e bebíamos aquela água impotável. Ainda assim, e não obstante esta medida preventiva, o “filtro” permitia a passagem de impurezas que deixava fortes vestígios na própria língua.
Diz-se que o paludismo que tenha sido tratado persiste, por vezes, como infecção latente que poderá reaparecer caso o tratamento não seja contínuo. Havia, contudo, que temer os efeitos secundários possíveis do quinino indicando que deveria ser interrompida a sua utilização em caso de surdez, irritações da pele, perturbações ópticas ou outros sintomas graves. A destruição dos glóbulos leva a uma anemia crónica muito séria.
Antes e depois da independência das antigas colónias portuguesas, estive várias vezes em todos os países africanos que fazem parte dos PALOP e não voltei, felizmente, a ser acometido por aqueles estados febris provocados pelo paludismo que deixa a pessoa temporariamente muito debilitada fisicamente.
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Segue-se uma temática de selos de Macau, Timor, Estado da Índia, Moçambique, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Guiné e Angola, alusiva à Erradicação do Paludismo (Curiosamente o selo alusivo à Erradicação do Paludismo referente ao “Estado da Índia”, data de 1962. Porém, e como antes referi, a ocupação daquele “espaço territorial” pela União Indiana, deu-se em Dez1961, sinal de que, estes selos terão sido desenhados, litografados e posteriormente enviados para Goa, Damão e Diu nos últimos meses de 1961, a fim de serem utilizados a partir de 1962).

1 comentário:

NOCA disse...

Valiosos documentos históricos, estes que nos são fornecidos pela filatelia!
Nesse campo os nossos CTT sempre marcaram posição muito saliente, dando realce a todos os eventos e temas mais importantes da actividade humana.
Pelos vistos tambem nestes espaços do coleccionismo marcas uma posição destacada.
Bom trabalho!!!