terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Dezembro de 1961 - Angola

























Comandante do 2º. Pelotão da CC 115 - Alferes Miliciano João Reis Lima Barreto
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As festividades natalícias de 1961 não existiram para a CC 115.

No mês de Dezembro de 1961, o 2º. Pelotão da "115" encontrava-se acampado na margem direita do rio Lifune, em Anapasso, precisamente no local onde a Companhia pernoitara na noite de 14/15 de Julho desse mesmo ano (vide posts deste Blog "Episódios Avulsos" e "Acampamento do rio Lifune").

Para mim, ter chegado vivo ao mês de Dezembro e sem vestígios de bala no corpo, parecia-me quase um milagre - milagre que na perspectiva religiosa, o importante não é interrogar-mo-nos quanto ao que aconteceu, mas perscrutar o sentido do mesmo - .

Relembro que, de um pelotão composto por 38 militares, no dia 15 de Julho, perderam a vida em combate 6 dos nossos camaradas e que 14 ficaram gravemente feridos. Fui um dos restantes 18 militares do pelotão a sair ileso desse violento confronto.

Nesse longínquo mês de Dezembro, em dia que já não sei precisar, o Alferes Miliciano Lima Barreto, Comandante do 2º. Pelotão, devidamente autorizado pelo Comandante de Companhia, convidou-me a mim e a mais 3 ou 4 militares a acompanhá-lo a Luanda. Ao chegarmos àquela cidade, mais parecíamos uns extraterrestres vindos de um qualquer outro planeta. Bastará referir que estivemos alguns meses sem ver sequer uma única mulher - nem preta nem branca! Curiosamente as primeiras senhoras que vimos, passado todo aquele período de tempo, foi as esposas de 4 dos Oficiais da Companhia que, entretanto, haviam chegado de Lisboa e que foram ter com os maridos ao Cacuaco.

Em Luanda, um casal familiar do Alferes Barreto obsequiou-nos com um jantar na sua residência. Durante o jantar falámos, como não podia deixar de ser, de alguns episódios ocorridos e referidos no blog. Deu para relaxar um pouco e ao mesmo tempo, para aliviar o stress e os pesadelos que continuamente nos atormentavam geridos pelo nosso subconsciente, o tal fantasma que ainda hoje persegue como uma sombra muitos dos combatentes das ex-Colónias Portuguesas. Terminado o jantar, que reconhecidamente agradecemos à família do Alferes Barreto, regressámos ao "mato". Registamos, como também não podia deixar de ser, o gesto e a camaradagem do Senhor Alferes Barreto, que nunca abandonou os seus homens, nem em combate nem em Luanda, quando o poderia eventualmente ter feito. Coisas aparentemente simples e normais mas que contribuíram grandemente para unir, para sempre, os ex-militares da CC 115, que criaram dentro de si, o espírito de camaradagem táo necessária a qualquer unidade militar, instituição que se preze ou grupo de trabalho.

Aló!... Aló!... ex-Alferes Miliciano João Reis Lima Barreto - Rua Domingos José Morais - Viana do Castelo. Um abraço fraterno do ex-1º. Cabo Radiotelegrafista Horta.


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