terça-feira, 27 de maio de 2008

Madrinhas de Guerra

Na acepção da palavra, madrinha é uma protectora. Contudo, madrinha de guerra, é o nome que no tempo da recente guerra colonial portuguesa se dava às raparigas ou senhoras que, a pedido, mantinham correspondência com militares nos diversos teatros de guerra. Constituíam um paliativo para ajudar na passagem daqueles tempos!
Nesse tempo, quem as não teve?
Bastar-lhe-ia, escrever uma carta para a antiga Revista "Plateia" - Lisboa, ou inclusive, para Espanha - Revista Maisol Bol?, Ferman Gonzalez, Madrid, a pedir às raparigas que fossem suas madrinhas de guerra e, ao fim de pouco tempo, as cartas em seu nome, eram mais que muitas! Até dava para as dispensarmos uns aos outros, com a alegação de que entretanto outra rapariga já se lhe tinha antecipado, aceitando-o como seu afilhado. Solicitava-se-lhe, entretanto, que fosse madrinha de guerra de um seu amigo, também militar, o que normalmente era aceite.





















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O militar quando se encontrava em "zona operacional", no "mato", não tinha grandes hipóteses de comprar selos de correio nem os próprios envelopes, motivo por que utilizava os aerogramas desdobráveis (peça de correio transportada por via aérea, vulgo, bate-estradas...) na correspondência dentro do país, ou àquilo a que, nesse tempo, chamavam de império português. Refira-se que, a escassez de aerogramas era também uma constante, não chegavam para um quinto das nossas pretensões.
Para as "muchachas" do país vizinho, a correspondência era feita através de envelope próprio (mais leve) para ser transportado por avião "par avion" e com a "taxa internacional", a fim de evitar que a correspondência fosse encaminhada através da via marítima, demorando uma eternidade até chegar às mãos da pessoa a quem era dirigida.
A correspondência mantida entre madrinha e afilhado, era interessantíssima. Quase sempre ia ter a um "pedido de namoro" e, em alguns casos, esses namoros deram mesmo em casamento.
A entrega de correspondência aos militares (bissemanal) era normalmente feita durante a hora da formatura. Numa dessas entregas de correspondência, recebi 17 cartas de raparigas a responderem ao meu pedido publicado nas revistas. Também mantive correspondência com algumas "chiquitas" (a un desconocido amigo! Leendo en la Revista Marisol ... y viendo que deseas correspondencia de señoritas mi dirijo a ti. Soi Burgalesca... blá! blá! blá!!!) , até ao regresso a Portugal. Foi uma boa maneira de ajudar a passar o tempo!
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O Rádio Clube de Angola - Luanda, através de interface com a Emissora Nacional - Lisboa, acedia aos pedidos dos militares para gratuitamente enviarem uma mensagem dirigida aos seus familiares, namorada ou madrinha de guerra, mais ou menos do seguinte teor: "Eu F..., falo de Angola. Encontro-me bem de saúde. Beijos... cumprimentos... Adeus e até ao meu regresso".
Desloquei-me também ao RCA, donde enviei a minha mensagem.

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