O Jornal “Correio da Manhã”, de 9/4/2008, publicou um artigo relacionado com os ex-combatentes, título “Deixar para trás” – “ao SABOR do VENTO”, da autoria do gestor Rui Marques, que tocou num dos pontos mais sensíveis da actualidade “os ex-combatentes”, que transcrevo:
“AQUELES QUE COMBATERAM NAS GUERRAS COLONIAIS FIZERAM-NO AO SERVIÇO DO SEU PAÍS. NÃO PODEM SER ABANDONADOS À SUA SORTE.
Sou de uma geração que já não viveu a Guerra Colonial. Não tenho, por um lado, experiências traumáticas de familiares que por terras de África tivessem perecido nem, por outro lado, à minha volta se viveram radicalismos ideológicos de qualquer cor, na discussão sobre as razões de ser desse tempo. Talvez por isso, beneficio – creio – de alguma distância crítica em relação ao tema dos ex-combatentes e, porventura, um olhar desapaixonado que permite maior objectividade.
E que se vê desse posto de observação? Acima de tudo, descobre-se esquecimento que é das formas mais duras da injustiça. Emerge, então, uma sensação de desconforto pela forma como, enquanto comunidade e País, nos portámos em relação a estes homens. Chega mesmo a tocar a vergonha.
Muitos dos ex-combatentes e suas famílias pagam ainda hoje uma factura muito elevada, no corpo e na mente, em consequência dessa experiência difícil. Os fantasmas da guerra não os deixam descansar. E enquanto sofrem o peso dessa herança, não sentem dos seus compatriotas e do Estado que serviram um reconhecimento suficientemente condigno, sem aproveitamento ideológico, com o respeito que merecem.
E onde radica parte dessa falta de respeito? Em grande medida, na confusão lamentável entre o julgamento ideológico de um regime político e a condenação ao esquecimento dos que, sem dolo, serviram debaixo de uma bandeira. Não há erro maior.
Quem combateu nas ex-colónias portuguesas – na sua esmagadora maioria – não o fez de livre vontade. À alternativa da deserção, muitos entenderam dizer não, por considerarem ser uma traição aos seus. Outros, mais prosaicamente, não conseguiram partir para o exílio a tempo. Restou-lhe então receber a guia de marcha e partir para o mato, passando a experimentar “aquele inferno de matar ou morrer”.
Aqueles que combateram nas guerras coloniais fizeram-no ao serviço do seu País, com maior ou menor convicção, executando uma política da qual não eram autores nem co-responsáveis. Não será necessário recordar que não vivíamos em democracia e a formulação da decisão política não resultava da voz do povo. Salvo eventuais autores de crimes de guerra, cometidos nesses anos, e que mereceriam o julgamento que a própria disciplina militar prevê, os ex-combatentes são, acima de tudo, cidadãos portugueses que obedeceram, com risco de vida, a um desígnio político do regime vigente. Foram servidores do País e assim devem ser tratados. Sem subterfúgios, nem equívocos.
O gesto de reconhecimento aos ex-combatentes não equivale, como alguns gostariam, a branquear os erros do regime anterior, a apelar a um saudosismo bacoco ou a ir mais longe para territórios racistas e neo-colonialistas. Nada disso. Trata-se somente de não abandonar os nossos homens, sobretudo depois do combate. De não os deixar desaparecer na névoa do esquecimento. Um povo digno não os deixaria para trás.”
O meu comentário:
Não resisti!
Publiquei o artigo na íntegra.
Nada mais a propósito.
Que mais poderei dizer?
Dizer, talvez, BEM-HAJA Senhor Jornalista. Ainda há quem tão abnegadamente defenda os desamparados ex-combatentes. Nós sabemos que os velhos combatentes constituem para a sociedade em geral um peso ou qualquer coisa que já não rende, pouco vale e relativamente quase não interessa, salvo, claro está, em determinados momentos da vida nacional (períodos eleitorais). Alheiam-se deles as próprias estruturas a que pertenceram e, com o tempo, a doença pós-traumática, a inflação, etc., leva-os à míngua, olvidado também por outras instituições.
∞
Curiosamente, o mesmo Jornal, “Correio da Manhã”, numa das suas edições de 2007 (que já não sei precisar o dia), referia:
“Se servistes a Pátria e ela vos
foi ingrata, vós fizestes o que
devíeis, e ela o que costuma”.
“AQUELES QUE COMBATERAM NAS GUERRAS COLONIAIS FIZERAM-NO AO SERVIÇO DO SEU PAÍS. NÃO PODEM SER ABANDONADOS À SUA SORTE.
Sou de uma geração que já não viveu a Guerra Colonial. Não tenho, por um lado, experiências traumáticas de familiares que por terras de África tivessem perecido nem, por outro lado, à minha volta se viveram radicalismos ideológicos de qualquer cor, na discussão sobre as razões de ser desse tempo. Talvez por isso, beneficio – creio – de alguma distância crítica em relação ao tema dos ex-combatentes e, porventura, um olhar desapaixonado que permite maior objectividade.
E que se vê desse posto de observação? Acima de tudo, descobre-se esquecimento que é das formas mais duras da injustiça. Emerge, então, uma sensação de desconforto pela forma como, enquanto comunidade e País, nos portámos em relação a estes homens. Chega mesmo a tocar a vergonha.
Muitos dos ex-combatentes e suas famílias pagam ainda hoje uma factura muito elevada, no corpo e na mente, em consequência dessa experiência difícil. Os fantasmas da guerra não os deixam descansar. E enquanto sofrem o peso dessa herança, não sentem dos seus compatriotas e do Estado que serviram um reconhecimento suficientemente condigno, sem aproveitamento ideológico, com o respeito que merecem.
E onde radica parte dessa falta de respeito? Em grande medida, na confusão lamentável entre o julgamento ideológico de um regime político e a condenação ao esquecimento dos que, sem dolo, serviram debaixo de uma bandeira. Não há erro maior.
Quem combateu nas ex-colónias portuguesas – na sua esmagadora maioria – não o fez de livre vontade. À alternativa da deserção, muitos entenderam dizer não, por considerarem ser uma traição aos seus. Outros, mais prosaicamente, não conseguiram partir para o exílio a tempo. Restou-lhe então receber a guia de marcha e partir para o mato, passando a experimentar “aquele inferno de matar ou morrer”.
Aqueles que combateram nas guerras coloniais fizeram-no ao serviço do seu País, com maior ou menor convicção, executando uma política da qual não eram autores nem co-responsáveis. Não será necessário recordar que não vivíamos em democracia e a formulação da decisão política não resultava da voz do povo. Salvo eventuais autores de crimes de guerra, cometidos nesses anos, e que mereceriam o julgamento que a própria disciplina militar prevê, os ex-combatentes são, acima de tudo, cidadãos portugueses que obedeceram, com risco de vida, a um desígnio político do regime vigente. Foram servidores do País e assim devem ser tratados. Sem subterfúgios, nem equívocos.
O gesto de reconhecimento aos ex-combatentes não equivale, como alguns gostariam, a branquear os erros do regime anterior, a apelar a um saudosismo bacoco ou a ir mais longe para territórios racistas e neo-colonialistas. Nada disso. Trata-se somente de não abandonar os nossos homens, sobretudo depois do combate. De não os deixar desaparecer na névoa do esquecimento. Um povo digno não os deixaria para trás.”
O meu comentário:
Não resisti!
Publiquei o artigo na íntegra.
Nada mais a propósito.
Que mais poderei dizer?
Dizer, talvez, BEM-HAJA Senhor Jornalista. Ainda há quem tão abnegadamente defenda os desamparados ex-combatentes. Nós sabemos que os velhos combatentes constituem para a sociedade em geral um peso ou qualquer coisa que já não rende, pouco vale e relativamente quase não interessa, salvo, claro está, em determinados momentos da vida nacional (períodos eleitorais). Alheiam-se deles as próprias estruturas a que pertenceram e, com o tempo, a doença pós-traumática, a inflação, etc., leva-os à míngua, olvidado também por outras instituições.
∞
Curiosamente, o mesmo Jornal, “Correio da Manhã”, numa das suas edições de 2007 (que já não sei precisar o dia), referia:
“Se servistes a Pátria e ela vos
foi ingrata, vós fizestes o que
devíeis, e ela o que costuma”.