quarta-feira, 9 de abril de 2008

Sete Curvas

O local das Sete Curvas (em pouco mais de 100 metros), era o sítio ideal para uma emboscada às nossas forças.
Estrada a serpentear à beira de uma ravina. Do lado oposto à ravina, numa zona alta, no sentido Cacuaco – Beira Baixa – Nambuangongo, lá estava o IN abrigado em trincheiras, à nossa espera!

Nesta emboscada “a das Sete Curvas”, 27Jul?, por força das circunstâncias, fomos obrigados a acampar e a pernoitar no sopé de um morro imediatamente à última curva (7ª.), por entretanto ter anoitecido e por termos sofrido 1 morto e 2 ou 3 feridos graves que careciam de evacuação rápida. O local do acampamento era paupérrimo, de mata cerrada, mas não deixando ao Comandante outra alternativa que não fosse a de determinar que a máquina que nos acompanhava, buldozer, “terraplanasse”o sítio onde pernoitámos. Foi um trabalho exaustivo atendendo a que um pouco antes tinha havido um confronto com o IN. Eu sei que nessa noite descansei um pouco sobre uma manta que estendi por debaixo do jipão das transmissões até cerca da meia-noite, altura em que fui acordado, por ordem do comandante, a fim de transmitir em morse, uma mensagem cifrada (RI). A transmissão da mensagem em morse garantia uma maior segurança ao seu conteúdo e minimizava a ocupação do espectro de radiofrequência e também porque a propagação do sinal rádio em fonia era ténue devido a problemas relacionados com o comprimento da antena horizontal, instalada no exíguo espaço existente entre o jipão das transmissões e o ramo de um embondeiro que lhe servia de suporte. Na transmissão dessa mensagem, ajustei a mola da chave de morse à coxa da perna direita e à luz de uma lanterna, tapado com uma capa para impedir que fosse visto pelo IN, o qual poderia eventualmente ter permanecido naquele morro muito alto que se situava ali bem perto e em local privilegiado para disparar dali uns tiros que atingissem o alvo, neste caso, a minha pessoa. Enfim, depois de tudo isto, o Relatório Imediato lá chegou ao destinatário que o aguardava com alguma ansiedade. Um alívio para o Comandante e uma honra para mim; esgotado, mas consciente do dever cumprido; a seguir fui descansar. Por vezes interrogo-me: Terá o Comandante descansado alguns minutos naquela noite? Estou em crer que não porque o dia seguinte foi também de trabalho intenso e a noite já era longa.

A CCaç.115 teve também a sorte ou privilégio de ter como Comandante o Capitão (hoje Major General na reserva) Alípio Emílio Tomé Falcão e como 2º. Comandante o Tenente (hoje Tenente General na reserva) António Cipriano Pinto, distintos oficiais de forte personalidade, decididos, muito jovens, mas com uma enorme maturidade.

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