quinta-feira, 3 de abril de 2008

Mértola - Vila, Cidade, Vila

… Era uma vez, há muitos e muitos séculos, antes de Portugal ter nascido para a história do mundo… Então, ainda o Al-Gharb (Ocidente ou terras do Ocidente) pertencia completamente aos Árabes e Mouros (como nós lhe chamamos, por terem vindo da Mauritânia) e possuía a sua zona de maior importância na região de Al-Faghar (Na opinião dos estudioso e entendidos esta província de Al-Gaghar, pertencia ao reino de Al-Gharb, abrangia até Mértola as terras da nossa actaul província do Algarve e do Baixo Alentejo) cuja capital era a sumptuosa e remota Cheb (Silves)…
– Lendas de Portugal, de Gentil Martins – “Amendoeiras em Flor” (Gilda – uma mulher formosa) –
"Segundo a lenda, havia um rei mouro que desposara uma rapariga do Norte da Europa, à qual davam o nome de Gilda. Era encantadora essa criatura, a quem todos chamavam a "Bela do Norte", e por isso não admira que o rei, de tez cobreada, tão bravo e audaz na guerra, a quisesse para rainha .......... Entretanto, uma tristeza se apoderou de Gilda. ..........A "Bela do Norte" tinha a nostalgia da sua terra. .......... Por fim, um dia, Gilda em pranto e soluços, confessa ao marido que toda a sua tristeza era devida a não ver os campos cobertos de neve, como na sua terra. .......... O rei deu então ordem para que em todo o Algarve se fizessem grandes plantações de amendoeiras. - Gilda, disse o rei: Vinde comigo à varanda da torre mais alta do castelo e contemplareis um espectáculo encantador! .......... A rainha bateu palmas e soltou gritos de alegria ao ver todas as terras cobertas por um manto branco, que julgou ser neve. ..........Assim viveram ... sempre muito felizes ..."

A vila de Mértola “antiga Myrtilis – posteriormente os muçulmanos modificaram o nome de Mértola para Mirtolah”, segundo Plotomeu, era guardiã e ponto fundamental das comunicações fluviais e terrestres – navegável até à foz, o Guadiana, conhecido pelo Grande Rio do Sul, permitia transporte fácil da pesada mercadoria mineira, e a estrada romana que vinha de Beja.

A antiga cidade de Mértola era já célebre entre os geógrafos da Antiguidade pela imponência das suas fortificações de mais de 1Km de muralha. Deteve no passado uma importância histórica que o pequeno burgo actual, esquecido o estatuto que ostentou de cidade pré-romana e romana, de capital de um reino muçulmano (Taifa) e de sede dos Cavaleiros da Ordem de Santiago, apenas longinquamente deixa adivinhar.

Mértola, é decerto um dos mais antigos sítios do território português onde, com idênticas funções, se manteve através dos séculos uma povoação importante. Já na época pré-romana a desconhecida Mértola de então terá servido de elo de ligação portuária entre o interior do território e o mar, particularmente com o mar Mediterrâneo. Eram os tempos em que uma brilhante civilização, de que o expoente máximo foi a cidade de Tartessos, se desenvolvia no Sudoeste da Península Ibérica. Veio depois Roma, veio a época muçulmana, e Mértola continuará a ser uma importante cidade. Será a conquista cristã do Sul do território português, em meados do século XIII que abrirá caminho ao seu apagamento.
(Pelos Caminhos de Portugal – Fernando António Almeida – Círculo de Leitores).

A função de Murtili, de Myrtilis, de Mântua, e, ainda que em rápida perda de importância, da Mértola conquistada em meados do século XIII, pelos exércitos cristãos, numa época em que o transporte fluvial e marítimo era dominante, Mértola localizava-se à beira dum rio navegável que tinha comunicação directa com o mar e a garantia de um caudal constante que lhe era fornecido através do próprio fluir das marés.

Alguns privilégios, antiguidades e outras coisas dignas de memória:
“…He este termo confim do Reino do Algarve, sítio forte nas coisas do rio Guadiana, e sita a villa em hum eminente monte, de que muitas ruas sam mais levantadas que os telhados, e sobrados de outras. Tem voto em Cortes, e assento em bando decimo outavo. He fundada pellos de Tiro dous mil e setenta e seis anos na Era vulgar, quando Alexandro Magno os violentou a se confederarem na Luzitânia, e lhe poseram o nome de Mirtire, aliás Tiro Nova. E Julio Cezar a fez Municipio de Direito Lacio amplificando-a com privilégios dos romanos, grande e affectuosamente, de forma que já lhe chamavam Julia Mirtiles, hoje corrupto o vocábulo Mértola. Mas seis estatuas de pedra mármore, que he noticia se acharam abrindosse alicerces para Caza da Mizericórdia desta villa, mas já do seo fim; colunas; túmulos; frizos e alicerces, que ainda se acham, e de que há muitos sinaes, bem mostram sua opulência mayor. Ocuparam-na os mouros, e deles a resgatou o Senhor Rey D. Sancho Segundo, no ano mil e duzentos e trinta e oito, como declaro na segunda resposta”.
(As Terras, as Serras, os Rios – As Memórias Paroquiais de 1758 do Concelho de Mértola)

O encontro entre civilizações, nomeadamente com a civilização árabe, havia de trazer elementos culturais a maior valia, uma vez que os árabes, depois dos romanos, trouxeram para o campo das ideias e da experiência as bases duma formação científica desde a astronomia, à matemática, à química, à medicina e à alquimia, que ainda hoje são de considerar, e que bem expressas ficaram na grafia dos números, os algarismos romanos primeiro, e depois os árabes. Passado o período de confrontos e de lutas sangrentas, outros tempos vieram sucessivamente com a natural adaptação, depois a pacificação até à conveniência.
Povoamento de Mértola
<(...) Saibam todos os que virem esta carta que eu, Sancho II (...) por minha livre vontade e acordo e parecer dos meus fidalgos (...) e pelo bom serviço que me prestaram D. Paio Peres Correia, comendador de Alcácer e os freires da Ordem de Santiago (...) concedo à Ordem de Santiago o castelo de Mértola com todos os seus termos (...)".
Frei Brandão em Crónicas de D. Sancho II e D. Afonso III (adapatação) - Reis e Rainhas de Portugal - Manuel de Sousa

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