quinta-feira, 10 de abril de 2008

Por Último

Passados que foram quase 48 anos da ida da CCaç.115 para Angola, os sobreviventes recordam cada qual à sua maneira, de quando em vez, os principais episódios da guerra colonial dos anos “60/70”.
Ensinaram-nos a sentir África e hoje percebê-la. Quanto às próximas gerações, esse entendimento será só o que lhes for transmitido pela História, quantas vezes distorcida.
Deste modo fomos os últimos a viver um modo de vida que desapareceu para sempre, deixando apenas em alguns, nomeadamente nos residentes das ex-colónias, a saudade, e noutros (os mobilizáveis da Metrópole) o alívio de saber que esses tempos passados não voltarão mais.
Do meu ponto de vista, o passado de um povo não se destrói e é melhor ou pior, o alicerce do presente.
Apesar de todas as vicissitudes e de acidentes de percurso, tanto os povos que foram colonizados como os colonizadores não deverão guardar quaisquer rancores entre si, nem fomentar ódios mas sim respeitar-se mutuamente, olhar para o futuro com esperança e fé e pugnar para que a paz entre os homens seja uma realidade e, de mãos dadas, contribuir para a dignidade humana.
Temos que pôr um ponto final e definitivo nas cicatrizes dos possíveis ressentimentos que ainda persistem.
Nos dias de hoje em que o espectro da guerra ainda paira sobre o planeta Terra, parece oportuno parar para reflectir não apenas sobre a sua legitimidade ou consequências, mas também sobre a origem dos conflitos e a eficácia dos meios violentos na sua solução.
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"Só há uma guerra que temos a certeza de ser total e permanentemente justa: é a guerra contra a miséria.
O homem só se salva a partir do momento em que se torna salvador."
Padre Pierre - Nova Gazeta , Montijo, 03 Jan 03.
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O regresso e um trauma!!!
Sem que tenha trazido de Angola qualquer peso de consciência relativamente aos tempos de guerra, durante os 8 anos seguintes, fui "assaltado" com alguma frequência, durante a noite, por sonhos e pesadelos, quase sempre ligados a cenários que o subconsciente gerava, acordando inúmeras vezes em sobressalto.
Notava que existia em mim, alguma ansiedade e um conjunto de imagens que perpassavam no espírito durante o sono, que experimentava diversos altos e baixos, de duração variável, numa só noite.
Contudo, suportei este acontecimento emocionalmente doloroso e prejudicial sem ter sido submetido a qualquer tipo de vigilância médica.
Cerca de 8 anos mais tarde, voltei a Angola, numa outra missão. Parece ter sido em boa hora porque os tais conflitos psíquicos que até então me atormentavam, desvaneceram-se rapidamente, até desaparecerem, sem que se tenha operado qualquer alteração em termos comportamentais que justificasse tal tipo de anormalidade psíquica.
Como outrora, voltei, desde então, a acordar revigorado de manhã!

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