terça-feira, 8 de abril de 2008

Em Évora

Era nos postos de rádio do STM que a formação de um radiotelegrafista era levada a sério. Inicialmente começava como praticante e treinava empenhadamente horas a fio, durante todo o dia tendo apenas algumas horas de dispensa aos domingos. Era-lhe exigido que conhecesse bem a filosofia das redes rádio; as frequências de trabalho (HF – onda curta), quer diurnas, quer nocturnas e as horas exactas de mudança de frequência; a exploração dos meios; a verificação rádio; as indicações de procedimento e ainda, sem gaguejar, os graus de precedência das mensagens. Logo que passava a “pronto”, era então considerado operador de rádio e passava a fazer turnos de serviço transmitindo e recebendo mensagens oficiais à sua inteira responsabilidade, integrado nas redes rádio nacionais, inclusive, o resultado da obtenção de dados diários da meteorologia, designado por “meteos”, da zona Sul, passava por ali e era transmitido todas as noites para o Centro Nacional de Telecomunicações – Lisboa, a fim de ser enviado para o Serviço Meteorológico Nacional (os dados então obtidos todas as noites no posto de rádio, por telefone local, eram constituídos por grupos de 5 algarismos (mensagem codificada). Quando alguns algarismos dos grupos eram substituídos pela letra X, normalmente chovia. Quantos mais XX trouxesse, mais chovia! – “Era a nossa análise; se estava ou não correcta, desconhecíamos”); Após a recepção dessa mensagem telefónica no posto de rádio, o operador dispunha somente de 5 minutos, no máximo, para a fazer chegar, em grafia – morse, à Estação Directora da Rede que concentrava dados de outras zonas do país e os fazia chegar ao destinatário.
Era realmente no posto de rádio do STM que aplicava os conhecimentos adquiridos ao longo da sua formação e onde tinha que demonstrar o resultado daquilo que então aprendera. Dizia-nos o Chefe da Estação (Posto de Rádio): – Constitui boa norma alinhar ideias, escrevê-las concisamente num papel e só depois chamar as estações com que se pretende comunicar.

Para compensar o esforço do trabalho resultante da sua aplicação ao serviço, passava a auferir o abono diário de 10$00, o que já era bastante significativo em relação ao anterior “pré” que até então recebia e que nem sequer se aproximava dos 100$00 mensais. Inclusive, o radiotelegrafista durante a Guerra Colonial, recebia mais 10$00 do que os seus camaradas de armas de outras especialidades.

Ainda em Évora, os tais dez escudos diários, davam para tomar as refeições na messe de sargentos do ex-Regimento de Artilharia Ligeira, nº. 3 (RAL 3), o que já não era nada mau. Afinal o esforço dispendido e a ausência de férias até então, estavam a ser compensados.

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