O episódio da emboscada de Quanda-Maúa e toda a história da CCaç.115, como já referi, serão enfatizados pelo meu grande amigo ex-Alferes Nobre de Campos (NOCA).
Vai sair na perfeição. Aposto! Força NOCA. P´rá frente! Que atrás vem gente!
∞
O momento esperado – 1º. Contacto com o IN – 15Jul61 - Quanda-Maúa
∞
O momento esperado – 1º. Contacto com o IN – 15Jul61 - Quanda-Maúa
(Nota: IN - Guerrilheiros - Terroristas, para uns; heróis para outros. É assim na guerra!)
-
À entrada da Ponte (destruída) - Rio Lifune - Anapasso, mais concretamente na margem esquerda do rio, estava colocada uma tabuleta em madeira, com os seguintes dizeres: "Reino de Nambuangongo - Daqui para diante não passa pé de branco - Tudo o que passa morre".
Era voz corrente que os feiticeiros forneciam aos grupos de guerrilheiros mixórdias e drogas que os protegiam das balas dos portugueses, e, por conseguinte, gritavam: "bala de branco não mata". (Diziam os entendidos, nomeadamente os guias, que eles bebiam muito maluvu, uma bebida, tradicional do Norte de Angola. Bebida que extraíam da palmeira, cortavam o pé das inflosrescências mais altas e encaminhavam a seiva para uma cabaça até encher de líquido. Depois da fermentação a seiva adquire um sabor adocicado que fica com um teor alcoólico considerável. Nalguns casos, os próprios sobas ofereciam-no também às divindades ancestrais).
No itinerário atribuído ao BC 114, a dificuldade era acrescida não só com as picadas obstruídas com árvores de grande porte e valas profundas, mas principalmente com a ponte destruída.
Cada Batalhão tivera sorte diferente ao longo da jornada de cerca de quatro a cinco semanas de duros combates e dificuldades tremendas para abrir caminho. O BC 114 debateu-se com enorme dificuldade para reconstruir a ponte sobre o rio Lifune e sem qualquer outro itinerário alternativo. A reconstrução da ponte, não obstante ter sido reparada num tempo record, atrasou substancialmente a progressão do Batalhão, itinerário para onde o IN fez deslocar os seus melhores e muitos grupos de guerrilheiros, inclusive, desguarnecendo, em parte, outros caminhos directos para Nambuangongo, os quais atacaram ferozmente as nossas tropas, tendo concorrido para que fizesse do BC 114, uma espécie de "O Viriato Trágico", por o ter impedido de chegar pontual e naturalmente a Nambuangongo. Há que referir aqui os fenómenos observáveis pelo sentido das batalhas, das emboscadas sucessivas, do corte da única via em muitos pontos do itinerário e de um sem número de abatises de árvores na picada, e reunir os estados psicológicos dos soldados que participaram nas acções ou durante elas são recordadas ou pressentidas.
-
Como disse anteriormente, irei falar muito pouco do nosso “baptismo de fogo”:
Como disse anteriormente, irei falar muito pouco do nosso “baptismo de fogo”:
A CC 115 sofreu nesta emboscada montada pelo IN em Quanda-Maúa, 6 mortos e 14 feridos (todos do meu pelotão) e que o IN saiu deste combate com algumas centenas de mortos, que abandonou no local, muitos feridos e totalmente derrotado. O confronto entre as duas partes foi inevitável bem como a luta corpo-a-corpo. O “meu” Emissor/Receptor ANGRC-9, instalado na viatura onde me deslocava, foi alvejado com 2 tiros de canhangulo (espingarda artesanal) no emissor, no início do combate e no preciso momento em que eu estava de micro na mão a informar o Comandante da Companhia que estávamos a ser atacados. De referir que o próprio Comandante se encontrava na viatura de comando, a uns escassos 30 ou 40 metros de distância do local onde os guerrilheiros se concentraram e nos atacaram. Neste local, o capim e a própria mata eram tão altos e densos que cobriam as antenas verticais instaladas nas viaturas.
A tripulação do “meu” Jeep era constituída por mim, por um furriel enfermeiro, por um soldado atirador/observador e, obviamente, pelo motorista da viatura. O soldado atirador ia ao lado do motorista; eu e o furriel enfermeiro seguíamos no banco da retaguarda. Eu e o soldado atirador, saímos ilesos do combate; o Furriel Miliciano Enfermeiro, Certo Loureiro, não teve tanta sorte, foi um dos 6 mortos em combate nesse ataque. O motorista ficou gravemente ferido e foi um dos 14 feridos nesse feroz combate.
Para aqueles que por força do destino não regressaram: Que Deus os guarde e a Pátria não os esqueça! (Os corpos dos 6 militares mortos em combate em Quanda Maúa foram enterrados no Cemitério de Sassa).
E, para aqueles que foram gravemente feridos, a guerra, essa, persegue-os como uma sombra! E não há modo de se desprender!
A tripulação do “meu” Jeep era constituída por mim, por um furriel enfermeiro, por um soldado atirador/observador e, obviamente, pelo motorista da viatura. O soldado atirador ia ao lado do motorista; eu e o furriel enfermeiro seguíamos no banco da retaguarda. Eu e o soldado atirador, saímos ilesos do combate; o Furriel Miliciano Enfermeiro, Certo Loureiro, não teve tanta sorte, foi um dos 6 mortos em combate nesse ataque. O motorista ficou gravemente ferido e foi um dos 14 feridos nesse feroz combate.
Para aqueles que por força do destino não regressaram: Que Deus os guarde e a Pátria não os esqueça! (Os corpos dos 6 militares mortos em combate em Quanda Maúa foram enterrados no Cemitério de Sassa).
E, para aqueles que foram gravemente feridos, a guerra, essa, persegue-os como uma sombra! E não há modo de se desprender!
Ainda hoje, quando relembro esse acontecimento, vem-me à memória o sentimento do terror que senti nesse dia fatídico. Foi ali, ao meu lado, que vi camaradas meus a morrer e outros a gemer por se encontrarem gravemente feridos, o que me levou a compreender quanto insignificante, breve e efémera a nossa vida é.
-
Apetece-me falar aqui no “Apólogo da Morte” de Francisco Manuel de Melo
Apetece-me falar aqui no “Apólogo da Morte” de Francisco Manuel de Melo
“na mocidade os moços confiando,
ignorantes da morte, a não temiam.
Todos cegos, nenhuns se lhe desviam;
Ela a todos c’o dedo os vai contando.”
∞
Transcrição de um artigo inserto nas páginas nºs. 34 e 35 do Livro da História da Companhia de Caçadores 116 (28 de Maio de 1961 a 13Jul1966), relatando o ataque de Quanda Maúa:
“…………. Nesse mesmo dia (14Jul61) a CCaç.115 chegou a Anapasso com vista a progredir às primeiras horas do dia seguinte à retaguarda da CCaç.117, para a limpeza do terreno e avanço sobre Quicabo.
Combate de Quanda-Maúa
a) Às 06.15 h. do dia 15 a CCaç.117 começou a ser atacada por 2 grupos IN, num total de cerca de 80 homens.
b) O alarme foi dado por um tiro disparado pelo IN da mata a E do estacionamento da CCaç.117, sobre um soldado desta Companhia que se afastara um pouco do estacionamento. Este tiro atingiu o praça no pescoço, sem consequências de maior. Foi o primeiro militar ferido na Unidade e, por coincidência, tinha o nº. do próprio Batalhão: soldado 114/60.
c) O ataque foi efectuado por 2 grupos. Um cerca de 50 homens, com canhangulos e catanas, vestindo calção e camisa azul e com um lenço atado à volta da cabeça atacou de frente, ao longo do itinerário para Quicabo. O outro grupo, de cerca de 30 homens, a maior parte vestidos de caqui (o que levou ao pensamento momentâneo de ser pessoal nosso) atacou em direcção à orla E do estacionamento da CCaç.117.
d) Localizados os grupos a CCaç.117 abriu fogo sobre o primeiro grupo, tendo a maioria dispersado e, posteriormente, juntado ao outro grupo localizado a E.
e) A CCaç.116, que dominava o terreno em redor abriu fogo sobre este grupo provocando inúmeras baixas. São de realçar os efeitos da Metralhadora Pesada Breda e do Lança Foguete 8,9 (Babooka).
f) Salienta-se que, como sempre se veio a constatar, o IN preocupou-se em levar consigo, na retirada, os feridos e o armamento.
g) Nesse mesmo dia e pouco tempo depois do ataque à 117, a CCaç.115 que se encontrava em Anapasso, recebeu ordem para seguir para a região e, quando estava prestes a atingir Quanda-Maúa, foi surpreendido por um violento ataque lançado por um grupo IN que se dissimulava na mata à direita da estrada.
h) O ataque desencadeado com tiros de canhangulos e caçadeiras, lançando-se imediatamente à abordagem utilizando catanas. Os elementos IN ziguezaguavam entre as viaturas, saltando sobre elas. Alguns dos homens da 115 foram atingidos mortalmente e feridos com gravidade. A CCaç.116, que ocupava uma posição dominante, não podia actuar pois colocaria debaixo de fogo e, portanto, em grande risco os elementos da CCaç.115.
i) Calcula-se que nessa acção contra as CCaç.115 e 117 o grupo IN era constituído por um número bastante superior a 500, na quase totalidade rapazes novos.
j) Foi este o baptismo de fogo do Batalhão 114.
k) …”.
NOTA: Segundo alguns cronistas a Operação Viriato suplantou as outras grandes operações dessa mesma guerra. Referem que esta operação foi provavelmente a acção militar portuguesa mais importante não só de Angola mas também de toda a Guerra de África 1961 – 1974 (destacando-se o ataque de Quanda-Maúa).
-
Caro Internauta:
Clique em "Comentários" deste Título "Episódios Avulsos"
-
A propósito acrescentarei o seguinte:
Tudo aquilo que tenho gravado na "caixinha da memória" e que passei para este Blog é verdadeiro, embora o descreva de forma sucinta pelos motivos já referidos.
O meu ex-camarada de armas, BMorim, do Bat Caç 114 corrobora o que foi dito acerca do ataque de Quanda-Maúa. As Companhias Operacionais 115, 116 e 117 intervieram directamente neste ataque e emboscada.
-
Atenção que nem tudo o que tem sido relatado em relação a Nambuagongo (Operação Viriato) corresponde inteiramente à verdade. O itinerário atribuído ao Bat 114, foi "osso difícil de roer", passe a expressão. Os OCS (Órgãos de Comunicação Social) poderiam obter também mais informações, a fim de passarmos para a nossa História a veracidade real dos factos. Na televisão, os próprios Chefes da chamada "Guerrilha Angolana", abordaram esse acontecimento mas não o desenvolveram porque não estava presente no debate ninguém do "114".
-
Caro leitor
Não irei suplicar-lhe que leia os "Comentários" deste "Título - Episódios Avulsos", porque acho que o termo é demasiado "forte". Contudo, peço-lhe que o faça. O comentador BMorim, da CC 117, sem contar tudo o que se passou naqueles dias porque é praticamente indescritível fála-nos entretanto de algumas coisas que se passaram desde a refrega de Quanda Maúa, até à "tomada" de Quicabo.
Direi, única e simplesmente: CONFIRMO. Verdade verdadíssima.
Mas há mais! Na oportunidade, outros episódios irão ser comentados.
4 comentários:
Porque estive nas mesmas datas e locais, pois era o1º cabo apontador da Bazooka do 2º pelotão da C.Caç117.
Fiquei encantado por finalmente ter descoberto na Web alguém a falar do B.C.114 e descrever parte do eu também vivi.
Todos temos uma forma muito pessoal de descrever os mesmos acontecimentos. Dependendo da predisposição e o porquê de nos encontrar-mos em determinados locais ( eu fui voluntário para a tropa e para a guerra ), porque neles participamos e não só ouvimos relatos, temos portanto a autoridade de quem viu e viveu directamente nos acontecimentos, para os relatarmos.
A minha versão do que se passou, entre o Rio Lifune, ponte ( Anapasso ) e Quanda Maúa, local do 1º combate em que intervieram as tropas do B.C.114 é a seguinte:
A C.Caç.117 deslocou-se de Mabubas a 13 de Julho com destino à ponte do rio Lifune cuja reconstrução estava a cargo das tropas de Engenharia comandadas pelo Tenente Varela. A primeira noite passada a descoberto na mata de Angola houve luta com as formigas terríveis (quissundo). Dia 14 de manhã continuava a reconstrução da ponte mas de forma lenta para ser segura. Chegado ao local o comandante do B.C.114, verificando o atraso na reconstrução, protesta fortemente com o referido Tenente, este e seus homens conseguem até ao principio da tarde desse dia concluir a reconstrução da ponte em madeira por onde passou toda a companhia 117 e seu material de transporte e equipamento logístico e de combate.
A poucos kilometros de distancia fica uma pequena elevação cujo local de designa por Quanda Maúa, nesse local e em condição de guarda avançada à reconstrução da ponte estava parte da C.Caç.116 comandada pelo Capitão Velasco, em cujo encontro ao final da tarde do dia 14 com o nosso Capitão Marques Pereira, acordaram passar a noite no local pois era do conhecimento das tropas instaladas que pouco mais à frente havia uma vala na estrada ( picada ) que cabia uma GMC.
Assim foi dada ordem montar acampamento no local, em forma a de meio círculo cuja abertura estava tapada com o morro onde estava instalada a tropa da 116.
Relembro que estávamos todos mal preparados e mal equipados para o que nos esperava, pois, levava-mos munições contadas para a Mauser e as granadas de Bazooka e Morteiros encaixotadas além de levarmos também as viaturas carregadas de laranjas do pomar do Lifune. Cerca das 6H00 do dia 15, estava eu ainda deitado no banco traseiro do jipão, ouvi dois tiros e os gritos de terroristas, era o soldado nº114 do 2º pelotão da 117, de nome Américo da Silva Moreira mais conhecido pelo Festas, pois atingido na face e no pescoço até cortou o fio de ouro que usava com uma medalha, rastejando e com a cobertura do fogo dos seus colegas consegue de novo entrar nas mini trincheiras onde foi socorrido e temos assim o primeiro ferido do B.B.114, em combate
Este soldado tinha-se afastado até junto do arame farpado de protecção para fazer as suas necessidades fisiológicas intestinais.
Os terroristas tentavam entrar no nosso acampamento, eram impedidos pelo nosso fogo que entretanto foi reforçado com os morteiros e bazookas que passaram a estar operacionais depois de eu à machadada rebentar os respectivos cunhetes e distribuir as munições, seguidamente e junto com os meus dois municiadores carregados de granadas e a respectiva bazooka subimos o referido morro e fomos instalar-nos sensivelmente a meia altura, daí tínhamos um campo de visão privilegiado, igual ao de esquadra de Breda a Norte crei que Brauning a Sul, ficando a minha esquadra de bazooka no centro, víamos a movimentação dos terroristas e era fácil para nós atingi-los com tiros certeiros e vermos os estragos que causamos, entretanto sentimos que se aproximavam as tropas da C.Caç.115 que era suposto vir em nosso auxilio.
Disso também se aperceberam os terroristas e deslocaram grande quantidade de elementos que fizeram a abordagem ás primeiras viaturas da 115, mas esta parte saberá o meu amigo bem descrever o que foi a carnificina em que lamentamos a morte de seis colegas e ferimentos em quase duas dezenas. Enquanto isto chegaram também os aviões PV2 que metralhavam os inimigos sobre quem lançaram bombas Napal, seguidos dos aviões Fiat que lançavam bombas de rebentação e, dizia-se de fragmentação.
A tudo isto assisti e participei numa posição privilegiada pois como disse coloquei-me
no morro de Quanda Maúa cuja figura integra as elementos do emblema de B.C.114.
Fico-me por aqui, este relato vai longo, mas afirmo que os meus traumas são pela forma como pessoas oportunistas fizeram a descolonização e desrespeitam que combateu pela Pátria quer queiram quer não.
Ex 1º cabo 12/58
Parabéns e solidariedade não só com o bloger, mas tambem com o comentador bmorim1.
É o 1º relato credível que vi sobre os acontecimentos de 15 de Julho de 1961 na zona de Quanda Maúa.
bmorim1 pormenoriza as circunstâncias referentes às Companhias 116 e 117, como testemunha presencial e atenta. Não pode referir em pormenor os factos passados com a Companhia 115, porque a densidade da floresta e capim no local, impediam a observação directa, embora tenha tomado conhecimento dos mesmos atravès dos relatos feitos pelos camaradas nas primeiras horas após o combate e pelo som das detonações das munições disparadas pelas armas de ambos os lados, embora grande parte da refrega tenha sido de luta corpo a corpo, com saliência para o uso das catanas por parte dos rebeldes e das baionetas por parte dos nossos soldados: a título de aclaramento direi que muitas das baionetas da mauser ficaram dobradas, pelo uso que se lhes deu.
Há, de facto a salientar a acção de duas armas importantes do Pelotão de Acompanhamento, no recontro de Quanda Maúa, por parte da CC 115: a Metralhadora Breda instalada sobre um Geep de 1/4 de Ton e o Morteiro 60mm que foi manejado com grande mestria a partir do piso de uma viatura ligeira, regulado por calculo expedito em tiro quase vertical e sem base de apoio, pelo Tenente Cipriano Pinto, facto que lhe grangeou a atribuição da Cruz de Guerra. Não podem entretanto menosprezar-se as armas ligeiras, nomeadamente a espingarda mauser com baioneta que foi de grande protecção e decisiva para contenção das vagas de atacantes que se sucediam sobre a coluna de viaturas indefesa numa picada em que o capim acariciava as caras dos soldados, sobre as mesmas viaturas.
Oportunamente darei continuação a este relato noutro local, ou seja, no meu blog:
http://noca-wwwcc115.blogspot.com/
QUICABO
Pós Quanda Maúa
No dia 15/7, após o combate descrito, entraram no perímetro do nosso acampamento os elementos da C. Caç. 115, desolados pelas perdas sofridas mas cientes de que foram capazes de se baterem com galhardia e coragem, sabemos que os estragos causados ao inimigo foram enormes (mais tarde verificados no local pois não haviam duvidas que essa parte do ataque em Quanda Máua foi terrível, sobretudo o rescaldo nesse local.
Depois da já referida entrada foi reestruturada a defesa do estacionamento e aguardamos ordens. É de supor que o Comando do Batalhão tivesse conferência com os superiores hierárquicos. Durante todo o dia comentava-se cada pormenor da intervenção de cada um mas, começamos a enfrentar os maus cheiros dos inimigos abatidos que eram ás centenas, agravado o cheiro, com o calor intenso desse dia. Aqui, adoptamos usar o lenço da mão em bico, tapando o nariz também com a casca de meia laranja sem polpa, para servir de filtro.
Fizemos, algumas pequenas incursões pela mata, a verificar os resultados.
Cerca de três dias depois, mais concretamente a 19/7 há ordem para a C.Caç117 seguir para a conquista de Quicabo, a nossa companhia estava moralizada mas como é compreensível receosa. Iniciada a marcha com um Caterpilar do pelotão de Engenharia à cabeça a abrir a coluna. Entretanto chegamos ao local onde havia a tal vala na estrada e já assinalada pelos elementos de C.Caç116, depois de devidamente tapada prossegue a marcha de forma lenta e com paragens para remover as árvores que, abatidas sobre a estrada dificultavam o nosso avanço.
Em determinado ponto sem nome conhecido, dizem-me os meus colegas que seria Quixona, sensivelmente a meio do percurso, fomos atacados de novo pelo inimigo que, se instalara no lado da estrada sem que fosse visto, dois soldados que seguiam na cabina de um dos carros da frente foram atingidos (dizia-se que com o mesmo projéctil), uma pequena peça de ferro ou aço atravessou o pescoço do primeiro condutor e foi cravar-se na ava do capacete do segundo condutor, ferindo-o no crânio provocando a cegueira imediata.
O primeiro é o Félix, felizmente que mais tarde depois de devidamente tratado regressou ao nosso convivo e ainda hoje é vivo, esteve neste ultimo convívio, o segundo nunca mais o vi mas segundo indicações do Félix terá recuperado a visão, o que me alegrou mas, nada mais se sabe dele.
.Eu, seguia num “jeepão”imediatamente atrás de um veículo pesado de caixa aberta em que eram transportados alguns elementos dos Sapadores de Engenharia que estavam integrados nas nossas missões. Esse veículo também transportava material explosivo em razoável quantidade, um dos elementos de engenharia levantou-se para fazer o lançamento de um petardo”cartuxo de trotil”, ao ficar a descoberto foi atingido mortalmente por um tiro de canhangulo, respondemos ao fogo. Entretanto o Alferes Ruas e o soldado conhecido por nós pelo “Lavanca” com a ajuda de outros dois soldados e a coberto das viaturas levam os feridos já referidos até à junto da viatura em que seguia o médico Alferes Madeira e o enfermeiro Furriel Marianito. Ainda houve outro ferido com um tiro num pé, mas sem gravidade de maior.
A marcha prossegue e mais à frente em lugar menos arborizado e mais ampliado pelo trabalho do Caterpilar (máquina preponderante na nossa progressão), ganhando assim maior campo de tiro, acampamos. Noite terrível, algum desanimo pelos resultados do dia e as incertezas do que nos esperaria nos dias seguintes.
A ordem na nossa Companhia era, de quem precisar de fazer as suas necessidades junto do arame farpado terá que levar escolta e avisar o responsável pelo sector para que não se repetisse o que aconteceu ao soldado nº 114 em Quanda Maúa.
O contacto com o Comando do Batalhão eram frequentes, portanto ao amanhecer estávamos a aguardar ordens. No primeiro contacto do dia ao amanhecer do dia 20/7 a ordem vigorosa e autoritária do Comandante que foi escutada por boa parte dos elementos da Companhia, exigia que já estivéssemos ás portas de Quicabo. (esta exigência foi escutada por boa parte dos elementos desta companhia) O comandante do Batalhão ao constatar que ainda estávamos no local do estacionamento da véspera profere tal ordem que provoca a reacção de um soldado que, terá dito “ anda para cá tu”. O Comandante terá ouvido e exigiu a prisão do soldado. A resposta pronta do nosso Capitão é que não identificou quem proferiu a frase e não podia prender toda a companhia. Foi dada ordem para por os carros na estrada e seguir para a conquista de Quicabo.
Estava assinalada pela aviação a passagem por um curso de água com alguma profundidade e largura o que prevenido o comando fez com a Engenharia transportasse várias chapas, talvez de aço ondulado e em arco para se improvisar uma passagem sobre o referido curso de água colocando-os no leito permitindo a passagem da água e atulhando por cima fazendo estrada. Estávamos à espera de ser atacados de novo enquanto fazíamos esse trabalho. O avião da DTA ou da FA, continuava a sobrevoar-nos dando informações da presença do inimigo em Quicabo.
O nosso avanço era apoiado pelo fogo a partir dos carros da frente e esporadicamente pelos restantes, chamaram a esta acção fogo de reconhecimento. Ao chegarmos ao referido curso de água e para nosso alívio constatamos que a montanha pariu um rato. O rio, tendo largura não tinha profundidade e passamos a vão sem necessidade de qualquer trabalho como o que estava previsto, o avanço prossegue e aproximamo-nos do objectivo, víamos fumo das fogueiras que ainda se encontravam acesas o que prova que o inimigo fugiu à aproximação e dos tiros de reconhecimento, com a cautela conveniente de todos os carros se fazia fogo para aquilo que nos parecesse que merecia um tiro, até serviu para prova de tiro ao alvo afinando pontaria, eu nesse percurso estava a utilizar a Mauser do soldado 114 e como era atirador especial fui exibindo os meus dotes contra o sino da capela de Quicabo que ficava fora da vila, e ainda contra algumas arvores sobretudo imbondeiros.
Na entrado em Quicabo os elementos da frente já não encontraram o inimigo mas puderam fazer o gosto ao dedo atirando e matando uma razoável quantidade de galinhas das quais o nosso vagomestre, Sargento Gaspar e os cozinheiros, fizeram um arroz de frangos para todos menos para mim que não gosto e limitei-me a comer a ração de reserva. Soube mais tarde que alguns colegas encontram encontraram caixas de bebidas e viveres que entretanto foram consumindo à socapa dos seus superiores numa perspectiva de safe se quem poder.
Entretanto foi içada a bandeira nacional, foi instalado segundo a orientação do comando da companhia todo o efectivo da mesma, embora tendo dado conta que, estávamos a ser observados e controlando os nossos movimentos pelo inimigo a partir de um morro que fica fronteiro a Quicabo.
Assim a minha versão da conquista de Quicabo pela C. Caç 117 do Batalhão 114.
Proximamente falarei das 7 Curvas, Balacende, até Beira-Baixa.
Um abraço do B.Morim
Há um aspecto que me proponho abordar oportunamente no blog CC 115, sobre a Operação Viriato e que vou aflorar agora pela importância que teve no desenrolar da operação: a ordem de operações determinava a progressão de 3 forças por 3 itinerários convergentes em Nambuangongo. Os três itinerários seriam igualmente difíceis em termos de orografia e obstáculos físicos criados pelo inimigo, mas o atribuído ao BC 114 era mais directo e, aparentemente, o mais rápido, desde que fosse recuperada a Ponte do Lifune, o que à partida estava garantido.
O IN (os insurgentes, como agora se diz), acreditava que a destruição da ponte era uma garantia de inviolabilidade do "seu" território, mas logo que viu a ponte a ser reconstruída, fez deslocar para a zona de Quicabo, todos e os melhores combatentes de que dispunha. Esta a razão porque a resistência no itinerário do BC 114 foi tão aguerrida. Ao "Combate de Quicabo", assim chamaram ao recontro com a CC 115 em Quanda Maúa, depois de terem atacado a CC 117, acorreram combatentes de Quipedro, Zala, Quifula, Canacassala e, claro, Nambuangongo.
Depois de Quanda Maúa, tudo se tornou diferente porque ali morreram em grande número os melhores combatentes do inimigo.
No itinerário aparentemente mais fácil e mais rápido, por mais directo, o IN exerceu a maior resistência! Esta a razão das dificuldades acrescidas, encontradas pelo BC 114 e o motivo porque se atrasou na progressão sobre Nambuamgongo.
Respeitemos a verdade!!!
Enviar um comentário